A acessibilidade cultural pode ser definida como um conjunto de políticas e ações que visam garantir a participação de pessoas com deficiência em atividades culturais — como idas ao cinema, teatro, shows, exposições e eventos. A garantia desse acesso é um direito fundamental para promover a cidadania, a inclusão e o respeito à diversidade.
No entanto, é preciso ressaltar que ainda existem desafios a serem enfrentados quando falamos sobre acessibilidade cultural. Muitos ambientes carecem de recursos importantes para assegurar o bem-estar e integração efetiva das pessoas com deficiência.
A acessibilidade cultural é mais do que a mera entrada física em um determinado espaço. Ela envolve a garantia de que todas as pessoas possam compreender, interagir e se envolver com conteúdos culturais, independentemente de suas limitações sensoriais, cognitivas ou motoras.
Cinemas, bibliotecas, centros culturais, salas de espetáculo e festivais devem estar preparados para receber todos – sem exceção. É por esse motivo que a adaptação de conteúdos se torna um braço indispensável da acessibilidade cultural: cada cidadão presente precisa estar apto a disfrutar da experiência cultural de forma plena.
Conforme já mencionado, ainda existem muitos obstáculos à inclusão cultural – mesmo com o avanço da conscientização. Entre as principais questões, podemos citar:
Barreiras comunicacionais: recursos como audiodescrição, legendas, LIBRAS e materiais em braille, por exemplo, são primordiais espaços de fato inclusivos. A falta dessas ferramentas impossibilita uma apreciação completa e sem ruídos do material cultural.
Falhas tecnológicas: o uso de leitores de tela é uma maneira geralmente eficaz de driblar os obstáculos impostos pelo mundo digital para pessoas com deficiência. Contudo, é preciso que sites de compra de ingressos e outros aplicativos respondam bem a essa tecnologia; plataformas que não operam corretamente com leitores de tela ou que não disponibilizam informações acessíveis também se configuram como impeditivos para a acessibilidade cultural.
Limitações arquitetônicas: assim como em qualquer outro cenário, a ausência de rampas ou banheiros acessíveis limitam a presença de pessoas com deficiência em locais voltados á cultura. Salas de descanso para cães guias e elevadores devidamente equipados também são alternativas a se considerar.
Dificuldades financeiras: é preciso pensar em políticas de meia-entrada adequadas para pessoas com deficiência e seus acompanhantes. Preços muito acima da média bloqueiam a participação ativa de PcD’s no mundo cultural.
Com os maiores desafios para a aplicação da acessibilidade cultural em mente, torna-se mais fácil pensar em recursos e estratégias que serão úteis para tornar os espaços culturais mais acessíveis. Confira alguns deles:
Audiodescrição: a audiodescrição é um artifício de narração em áudio que descreve imagens em tela ou expressões visuais para pessoas cegas ou com baixa visão. É imprescindível em filmes, peças de teatro e exposições gerais.
Intérprete de LIBRAS: contar com um tradutor de Língua Brasileira de Sinais em eventos ao vivo ou vídeos institucionais é outra medida indispensável quando falamos de inclusão. Existem, aliás, intérpretes de LIBRAS que com vivência artística que podem atuar em parceria com performers de palco. Conforme costa no Guia de Acessibilidade Cultural PNAB-CE, a pessoa Tradutora-Intérprete de Língua de Sinais (TILS) precisa ter a essa devida qualificação.
Legendas: para pessoas surdas ou com deficiência auditiva, as legendas em filmes e vídeos não podem faltar.
Material em braille: o braille é um sistema de escrita pensado para pessoas cegas. Textos em braille em museus e exposições são vitais para o entendimento do que está em exibição.
Canto quieto: o “canto quieto” é um local especial para pessoas que enfrentam dificuldades ligadas a uma maior sensibilidade sensorial. Esses “cantos” contam com uma iluminação mais amena e visam proteger seus ocupantes de ruídos externos ou muito informação visual simultânea.
Treinamento de equipe: não menos importante é a formação de profissionais para o atendimento inclusivo; os colaboradores dos espaços de cultura precisam estar preparados para auxiliar pessoas com deficiência.
Imagem: Freepik
Todos são responsáveis por uma cultura mais acessível
O direito à cultura não é exclusividade de ninguém. Instituições, artistas, o poder público e a sociedade em geral devem atuar em conjunto para garantir esse direito a todas as pessoas. Além disso, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) deixa claro no artigo 42 que:
“A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:
I – a bens culturais em formato acessível;
II – a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível; e
III – a monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos.”
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Isso quer dizer, em outras palavras, que a acessibilidade cultural é, antes de mais nada, uma obrigação legal. Para os organizadores e gestores de eventos, lembrem-se: Ao planejar um evento cultural, considere desde o início a questão de acessibilidade. Se possível, consulte pessoas com deficiência para entender suas necessidades da melhor forma.