Acessibilidade sensorial e emocional: o relato de Bárbara e o autismo
Quando o mundo parece alto demais
A acessibilidade sensorial e emocional abrange muito mais do que adaptações físicas. Antes de tudo, ela também envolve o respeito às necessidades sensoriais e emocionais de quem vive com autismo — um tema ainda pouco compreendido. Bárbara Ferreira Lima, 25 anos, foi diagnosticada tardiamente com autismo nível 1. Seu relato, portanto, traz luz à urgência de ambientes realmente inclusivos para a neurodiversidade.
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Acessibilidade sensorial: quando o barulho machuca
“Os sons altos me incomodam muito, é quase como se fossem um sinal de algo errado… uma sensação inexplicável”, explica Bárbara ao se referir ao transporte público. Situações que provocam angústia intensa, especialmente quando “cada palavra proferida dava voltas na minha cabeça.”
Esse tipo de impacto sensorial exige adaptações simples. No entanto, essas mudanças ainda são insuficientemente implementadas. Entre elas, destacam-se:
- Espaços silenciosos e com acústica controlada;
- Ambientes menos cheios ou com entrada escalonada;
- Alertas visuais alternativos aos sonoros.
Consequentemente, essas medidas, previstas na acessibilidade nos transportes e na comunicação digital, garantem não apenas autonomia, mas também bem-estar para pessoas neurodivergentes. Além disso, promovem equidade no acesso aos espaços urbanos. Portanto, devem ser levadas em consideração em qualquer planejamento inclusivo.
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Acessibilidade sensorial na escola e o impacto da falta de acolhimento
Na infância, Bárbara sofreu com o desconforto escolar: “A escola me causou um buraco tão grande…” Sem escuta atitudinal e sem suporte pedagógico, ela acumulou traumas em um sistema que, infelizmente, não se preparou para ouvir e acolher. Por isso, esse contexto evidencia a importância da acessibilidade metodológica, adaptando escola e conteúdo também ao neurodiverso.
Além disso, é preciso compreender que o acolhimento precisa ser contínuo e sensível às particularidades de cada aluno. Ademais, professores e gestores escolares devem receber capacitação específica para lidar com diferentes perfis sensoriais.
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Invisibilidade institucional e busca por autonomia
Mesmo após o diagnóstico, Bárbara enfrentou resistência até no sistema de saúde mental: “As primeiras consultas não foram legais… Me trataram como se eu fosse um animal desdentado.” Felizmente, depois de muita procura, ela encontrou um profissional que a entendia — uma vitória que transformou sua comunicação com o mundo.
Hoje, ela valoriza seu hiperfoco nas palavras e o uso da norma culta — o que a ajuda a se expressar e organizar seu universo. De modo especial, seu maior triunfo foi encontrar um profissional que “conseguia enxergar meu mundo interno”.
Por consequência, seu processo de autoconhecimento também se tornou mais claro e seguro. Além do mais, esse encontro lhe deu recursos emocionais para se posicionar diante da vida com mais confiança.
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O que significa acessibilidade sensorial e emocional?
Esses relatos reforçam a necessidade de considerar a acessibilidade emocional em três pilares principais. Primeiramente, é essencial garantir:
- Ambientes sensoriais seguros – com iluminação, acústica e densidade humana controlados;
- Acolhimento institucional – escolas, empregos e serviços de saúde que garantam o direito de existir com diferenças sensoriais;
- Comunicação adaptada – alerta visual, legendas, formatos amigáveis à leitura, apoio emocional.
Além dessas ações práticas, é necessário incluir escuta qualificada, formação de equipes e abertura à diversidade sensorial como parte da cultura organizacional. Dessa forma, criamos ambientes que favorecem a permanência e o florescimento das singularidades.
Essas são as bases da acessibilidade comunicacional. Quando respeitamos a experiência emocional do outro, de fato nos tornamos inclusivos — e não apenas cumprimos normas.
A mensagem de Bárbara
“Mesmo quando ninguém parece te entender, quem tem que entender é você mesmo. Se eu não tivesse pesquisado, não estaria aqui hoje.”
Essa frase resume sua jornada de autoconhecimento, protagonismo e empoderamento. Por fim, nos convida a refletir sobre como escutar e adaptar pode mudar realidades. Portanto, ouvir quem vive essas experiências é o primeiro passo para transformar o que ainda precisa ser incluído. Em outras palavras, é por meio da escuta que construímos pontes verdadeiramente acessíveis.
A acessibilidade sensorial precisa ser tratada como prioridade nas políticas públicas, garantindo inclusão de fato, e não apenas no discurso.