A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) reforça que todo estabelecimento de uso coletivo deve eliminar barreiras físicas e comunicacionais, garantindo, dessa forma, igualdade de condições a pessoas com deficiência. Isso, evidentemente, aplica-se também a padarias e cafés.
Apesar disso, nem sempre esses locais estão devidamente preparados para receber e acomodar pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Há uma série de barreiras físicas que podem impedir um espaço verdadeiramente inclusivo, como:
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Balcões e vitrines muito altos: isso dificulta o atendimento para pessoas em cadeiras de rodas.
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Corredores apertados, estreitos ou com obstáculos: mesas mal posicionadas, degraus e objetos espalhados podem comprometer o deslocamento seguro.
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Banheiros pequenos e não adaptados: mesmo em estabelecimentos menores, a legislação exige que haja ao menos um banheiro acessível.
A NBR 9050, norma que regula padrões de acessibilidade no Brasil, traz medidas para portas, rampas e corredores que deveriam ser aplicadas inclusive em pequenos comércios. Essas diretrizes são pensadas para tornar ambientes coletivos fisicamente acessíveis para todos. Entretanto, a questão da inclusão vai muito além disso.
Saiba mais em: Serviços de acessibilidade no Rio de Janeiro
Cardápios e comunicação inclusiva
O acesso à informação também é determinante para garantir autonomia plena aos clientes de um comércio. Cardápios posicionados em lugares altos demais, textos ilegíveis ou ausência de alternativas inclusivas podem excluir frequentadores com deficiência visual, auditiva ou intelectual.
Existem, contudo, algumas soluções práticas e relativamente simples para esses problemas, que incluem:
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Cardápios em Braille ou com QR Code acessível: o Braille é o sistema de escrita tátil usado por pessoas cegas ou com baixa visão. Já o QR Code permite leitura via celular, caso seja necessário.
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Uso de fontes grandes e contraste adequado: para pessoas com baixa visão, o uso adequado de fontes faz toda a diferença.
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Cardápios digitais com audiodescrição: um recurso eficiente para leitura em smartphones.
Saiba mais em: Acessibilidade cultural
Treinamento e empatia: o diferencial humano
Nenhuma medida física ou tecnológica substitui o atendimento humanizado. Para assegurar uma acessibilidade real e funcional, é preciso, antes de mais nada, poder contar com uma equipe treinada para lidar com diferentes necessidades. Isso inclui:
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Reconhecer o direito ao atendimento prioritário: os funcionários devem estar atentos para a questão da prioridade para pessoas com deficiência, idosos e gestantes.
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Oferecer ajuda sem invadir a autonomia do cliente: isso inclui ajuda para ler rótulos ou alcançar produtos fora de alcance, por exemplo.
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Saber comunicar limitações do espaço: os funcionários devem estar cientes de qualquer limitação e apresentar soluções alternativas, como entrega em domicílio ou atendimento externo.
- Possuir algum conhecimento em Libras: para atender clientes surdos, é importante ter alguém no grupo de colaboradores da padaria que saiba se comunicar em Libras (ou que saiba como utilizar aplicativos de tradução em tempo real).
Conforto e acessibilidade sensorial
Esse é outro ponto relevante: padarias e cafés têm um caráter sensorial muito marcante: cheiros, sons e movimentação fazem parte do ambiente. Para muitas pessoas, essa experiência é agradável, mas para pessoas autistas ou com maior sensibilidade sensorial, ela pode se tornar um tanto quanto desgastante.
Algumas medidas, porém, ajudam a tornar o ambiente mais neutro e, consequentemente, mais inclusivo. Podemos citar, por exemplo:
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Redução de ruídos excessivos: isso pode ser resolvido com aplicação de isolamento acústico em áreas de produção.
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Iluminação ajustada e não ofuscante: serve para evitar desconforto visual.
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Organização visual limpa: isso facilita a localização de produtos e áreas de atendimento de maneira geral.
Isso demonstra que, com pequenos ajustes, é possível criar um espaço mais amigável para todos, sem perder a essência acolhedora de uma padaria.
Saiba mais em: Acessibilidade: como praticar?
Como combinar responsabilidade social com credibilidade comercial
Apesar de ser uma obrigação legal e cidadania, investir em acessibilidade também pode ser uma forma de ganhar credibilidade. Isso porque ambientes inclusivos acolhem todos os tipos de clientes, criando uma experiência positiva que fideliza consumidores.
Quando uma pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida encontra um espaço acessível, a probabilidade de retorno é muito maior, e isso também influencia familiares e amigos que os acompanham. Além disso, locais acessíveis demonstram compromisso com o bem-estar social, fortalecem a imagem da marca e podem até servir como referência positiva na comunidade.
Ao tornar a acessibilidade parte do cotidiano, padarias e cafés – bem como outros tipos de negócios – contribuem não apenas para a inclusão social, mas também para uma cidade mais justa e acolhedora para todos.