A acessibilidade é um direito fundamental e uma necessidade vital para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas limitações físicas, possam usufruir da sociedade de forma plena e independente. Porém, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda existem diversos desafios enfrentados por pessoas com deficiência.
Este artigo explora relatos de indivíduos que vivem na pele as dificuldades da falta de acessibilidade. No entanto, ao mesmo tempo, destaca soluções e a importância de um compromisso social para a mudança. Confira mais detalhes logo abaixo.
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A falta de acessibilidade em ambientes domésticos
Muitas pessoas com deficiência enfrentam barreiras desde a entrada de suas casas. Andie Carolina, redatora e tradutora de Campinas, compartilha sua experiência de vida em uma casa inadequada para suas necessidades.
Ela descreve, por exemplo, que a rampa de entrada da residência é alta e sem apoio, o que dificulta seu deslocamento devido à falta de equilíbrio, uma condição associada à paralisia cerebral que ela enfrenta. Além disso, a garagem estreita a obriga a fazer movimentos forçados, resultando em dor e lesões. “A falta de espaço para mover a cadeira em minha garagem já me causou alguns machucados“, diz Andie, refletindo a falta de planejamento nas construções.
Outro ponto crítico é o quintal, que Andie descreve como cheio de “relevos no chão”, tornando-o um local perigoso para qualquer pessoa com dificuldades de locomoção. Para ela, até mesmo as pequenas irregularidades podem representar sérios riscos de quedas.
“A acessibilidade no ambiente doméstico ainda é uma grande luta diária“, enfatiza Andie. Isso evidencia o quanto o planejamento inadequado afeta a vida de quem necessita de um ambiente seguro.
Saiba mais em: Acessibilidade programática: avanços e desafios
O impacto da acessibilidade no trabalho
A questão da acessibilidade não se limita às residências, mas também afeta o ambiente de trabalho. Andie, que trabalha em home office, revela que o espaço pequeno e mal planejado de seu quarto compromete sua postura e confortabilidade.
A falta de espaço para acomodar adequadamente sua cadeira e o apoio para os pés é um obstáculo adicional em sua rotina profissional. “A falta de espaço no ambiente de trabalho em casa piora minhas dores e limita minha produtividade“, compartilha Andie. Isso é um reflexo das dificuldades que muitas pessoas com deficiência enfrentam ao tentar adaptar seus espaços de trabalho.
Já Ana Paula Lima, que possui a Síndrome de Guillain-Barré, vive um cenário igualmente desafiador no local de trabalho. Em seu caso, a falta de compreensão sobre as limitações impostas pela sua condição neurológica gera situações difíceis no ambiente profissional.
Ana, que trabalha em uma clínica de saúde, relata que, em diversas ocasiões, tem que subir escadas para acessar medicamentos necessários para os pacientes. Além disso, a altura das cadeiras não é adequada para ela, dificultando seu levantamento sem ajuda.
“O esforço físico constante prejudica meu desempenho no trabalho, mas poucos compreendem essa realidade“, explica Ana, destacando a desconexão entre as necessidades da pessoa com deficiência e as condições de trabalho disponíveis.
Acessibilidade em locais públicos: um passo lento
Em lugares públicos, como escolas e faculdades, a falta de acessibilidade também é uma realidade vivida por muitas pessoas com deficiência. Andie compartilha duas experiências marcantes de sua vida acadêmica, onde teve dificuldades em encontrar instituições adequadas para suas necessidades.
Em uma das escolas, após anos de convivência com suas dificuldades, ela enfrentou novamente obstáculos quando precisou buscar uma nova instituição para continuar seus estudos. “Escadas sem corrimão e calçadas irregulares fizeram com que eu ficasse meses sem estudar“, relata. Foi apenas quando encontrou uma instituição comprometida com a acessibilidade que Andie se sentiu segura e confortável para retomar seus estudos.
Um exemplo positivo de acessibilidade ocorreu quando Andie ingressou em uma faculdade que, ao contrário das anteriores, oferecia rampas, elevadores e salas adaptadas para alunos com necessidades especiais. “A faculdade que me recebeu foi um exemplo de consciência e compromisso com a acessibilidade“, diz Andie, mencionando a importância de ambientes educacionais inclusivos para garantir a igualdade de oportunidades.
A inclusão e os desafios da construção civil
A inclusão de pessoas com deficiência exige que a sociedade, especialmente os profissionais da construção civil, estejam comprometidos com a criação de ambientes acessíveis. Infelizmente, muitos lugares ainda não atendem a esses requisitos básicos.
As barreiras físicas, como escadas, calçadas irregulares e a falta de rampas em locais de grande circulação, são comuns e muitas vezes ignoradas. Isso afeta não apenas o transporte, mas a própria qualidade de vida das pessoas com deficiência, limitando sua liberdade e autonomia.
O relato de Ariel Alexandre dos Santos, que ficou tetraplégico após uma doença neurológica, destaca que, em muitas situações, a falta de acessibilidade nas construções dificulta sua vida diária. “Apesar de alguns lugares estarem adequados, ainda enfrento dificuldades em locais como academias e outros estabelecimentos públicos“, diz Ariel. Um dos problemas que ele enfrenta é a falta de rampas de acesso em alguns ambientes, o que prejudica sua mobilidade e torna o deslocamento arriscado.
A construção civil, em especial, tem um papel fundamental na transformação desse cenário. A inclusão de rampas adequadas, banheiros adaptados e espaços amplos pode melhorar significativamente a qualidade de vida de muitas pessoas com deficiência. É essencial que, ao planejar novos projetos, as necessidades de todos os cidadãos sejam levadas em consideração.
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O caminho para a inclusão total
Apesar dos desafios enfrentados, há muitos exemplos de progresso. A conscientização sobre a importância da acessibilidade está crescendo, e mais empresas, escolas e espaços públicos estão buscando atender às necessidades de pessoas com deficiência.
Contudo, como relatado por Andie e Ariel, ainda há muito a ser feito. Para garantir que a acessibilidade se torne uma realidade para todos, é necessário um esforço contínuo, com o compromisso de governos, empresas e cidadãos.
“A acessibilidade não pode ser vista apenas como uma obrigação legal, mas como um direito humano fundamental“, afirma Ariel. O compromisso de todos é essencial para que a sociedade seja verdadeiramente inclusiva, onde todos possam ter acesso igualitário a serviços, espaços e oportunidades.
Em resumo, as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência demonstram a necessidade urgente de melhorias na acessibilidade. Ao trabalhar juntos, podemos transformar a sociedade em um lugar mais inclusivo e igualitário para todos.