O impacto da deficiência adquirida: como o cuidado transforma a vida de Bruna
O impacto da deficiência adquirida afeta milhões de brasileiros todos os anos. No caso de Bruna Pauline, esse impacto foi repentino e profundo. Acidentes podem transformar vidas em segundos. Foi exatamente o que aconteceu com Bruna Pauline Macedo da Silva, de 23 anos, vítima de um atropelamento por moto. A batida, aparentemente localizada, causou danos neurológicos graves e sequelas motoras que afetam todo o lado esquerdo do corpo.
“Afetou todo o meu lado esquerdo”, relata com calma. Desde então, ela perdeu a autonomia para se locomover e hoje depende integralmente da mãe para realizar tarefas simples como se vestir, comer ou se deslocar.
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A importância da rede de apoio diante do impacto da deficiência adquirida
Diante desse novo cenário, a figura de Andreia — sua mãe e cuidadora — tornou-se central. Ela reorganizou completamente a própria vida para cuidar da filha.
“A Bruna voltou a ser um bebê”, conta. “Dou banho, troco fralda, dou comida, carrego, levo ao médico… faço tudo com amor.”
Esse depoimento evidencia o impacto da deficiência adquirida e representa o que muitos cuidadores familiares enfrentam: ausência de preparo, sobrecarga emocional e falta de apoio institucional. Ainda assim, Andreia aprendeu, com ajuda de enfermeiros, a lidar até mesmo com cuidados técnicos como traqueostomia e alimentação por sonda. Dessa forma, sua dedicação se tornou essencial para o cotidiano da filha.
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O impacto da deficiência adquirida na solidão pós-trauma e na inclusão
Contudo, o acidente não afetou apenas o corpo de Bruna — abalou também sua rede social.
“Meus amigos me abandonaram”, revela. O afastamento de colegas e até mesmo do ex-companheiro (que a deixou logo após o ocorrido) escancara uma realidade dura: a deficiência adquirida é frequentemente acompanhada de isolamento social.
“Hoje, meus amigos são os da minha mãe”, diz Bruna com sinceridade. Essa ausência reforça o papel central do vínculo familiar e aprofunda o impacto da deficiência adquirida em relações sociais. No entanto, também evidencia o quanto a sociedade ainda falha em acolher pessoas que passam por reabilitação. Por esse motivo, é necessário promover ambientes mais empáticos e acolhedores. Além disso, precisamos romper com estigmas que silenciam essas experiências.
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Acessibilidade: ainda uma barreira urbana
Atualmente, Bruna se locomove apenas de carro. Ela não utiliza ônibus ou trens — não por opção, mas por falta de acessibilidade adequada. A mãe comenta: “A gente pesquisa muito antes de sair. Nem todo lugar tem rampa ou banheiro acessível.”
A falta de estrutura em espaços públicos, bares e até hospitais restringe não só a mobilidade física, mas também a autonomia emocional da pessoa com deficiência. Como resultado, isso limita seus passeios, formação, reinserção no trabalho e qualidade de vida. Portanto, a ausência de acessibilidade urbana representa uma barreira real à inclusão. Por isso, é imprescindível que os ambientes urbanos sejam pensados de forma inclusiva e universal.
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O papel do cuidador invisível na jornada do recomeço
Andreia não é apenas mãe — ela é cuidadora integral, gestora da rotina médica da filha e, muitas vezes, única companhia emocional.
“A gente teve que aprender tudo. Desde como dar banho até como lidar com os procedimentos médicos mais complexos.”
Ainda assim, esse trabalho é muitas vezes negligenciado pelo poder público. A dificuldade em acessar psicólogos, benefícios sociais ou estrutura de apoio revela o quanto ainda há a ser feito para incluir, de fato, famílias em situação de deficiência adquirida. Consequentemente, o cuidado contínuo pode se tornar exaustivo e solitário. Além disso, sem suporte adequado, a saúde mental do cuidador também entra em risco.
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Pequenas conquistas após o impacto da deficiência adquirida
Apesar das limitações, Bruna guarda conquistas importantes.
“Consegui ficar de pé”, diz, com brilho nos olhos. Foi um momento simbólico, de reencontro com a esperança.
Andreia complementa: “Hoje, dentro do possível, está maravilhoso. Já temos uma rotina.”
Esse relato mostra que o impacto da deficiência adquirida vai além do físico e que a acessibilidade plena não é apenas técnica — é também afetiva. Está em dar tempo, respeitar limites e reconhecer conquistas, por menores que pareçam. Assim, cada pequeno progresso se torna um marco de superação. Dessa maneira, cada avanço reforça a importância de políticas públicas efetivas e contínuas.
“Nunca desistam. Tudo é possível.”
A mensagem de Bruna resume o espírito deste relato:
“Nunca desistam. Tudo é possível. Mesmo quando tudo parece ter mudado, é possível recomeçar.”
Por fim, Andreia também deixa um ensinamento valioso:
“A gente se reinventa. Não dá para chorar pelo leite derramado. Só se vive uma vez. E a gente tem que viver.”
Em conclusão, a história de Bruna e Andreia é um chamado à empatia, à ação coletiva e ao reconhecimento de que a inclusão vai além da estrutura física — ela precisa alcançar o afeto, o tempo e a escuta. Acima de tudo, é uma lembrança de que recomeçar, embora difícil, é sempre possível.